21 de janeiro de 2010

UM JOGO INTELIGENTE

VOCÊ SABIA QUE ……………

O Clube Desportivo de Paço de Arcos teve, nos em finais da década de 60 e princípio da década de 70, uma secção de Bridge, que esteve filiada na Federação Portuguesa de Bridge?

O Bridge foi, em tempos, considerado um jogo de elites, de nobres.

Na verdade trata-se de um jogo de cartas entusiasmante, por não ser dependente exclusivamente da distribuição das cartas, logo da sorte, antes da perícia dos jogadores em interpretar o significado das vozes (anúncios de vasas e naipes feitos pelos jogadores à mesa), e da capacidade de entendimento com o parceiro.


Popularizou-se quando umas quantas equipas internacionais se profissionalizaram - os italianos Garozzo/Beladona foram os mais ‘galácticos’ - e, sobretudo, quando o actor egípcio Omar Shariff, muito em voga pelo sucesso do filme Dr. Jivago, que protagonizou, entre outros, contratou a sua própria equipa para andar a jogar pelo mundo.

Uma verdadeira paixão. O casino do Estoril foi palco destas exibições por diversas vezes. O público podia seguir em directo os jogos, numa sala ao lado da dos jogadores, em ecrãs gigantes, e pasmar-se com as peripécias do leilão e do carteio.

Quatro associados do Clube, Carlos Abrantes (Camané), João Marques Pereira (Juca), Fernando Reigosa e João Barosa Pereira, à época entusiastas (maduros) do jogo e já com “curricula” em torneios de equipas, apalavraram com a Direcção, a criação de uma secção, sem dispêndio financeiro para o Clube, apenas necessitando de um espaço (pequena sala ao lado das mesas de bilhar/’snooker’) e de uns quantos baralhos de cartas, naturalmente.

O objectivo era o de criar uma escola de Bridge, e, consoante o nível desenvolvido, fazer participar algumas equipas em torneios organizados por outras entidades, numa primeira fase, e depois passar a organizar torneios em Paço de Arcos (aí o Clube teria que fornecer taças e medalhas, porque o dinheiro das inscrições ficaria ‘em caixa’, para custear deslocações dispendiosas), e passar a representar o Clube em actividades da Federação Portuguesa de Bridge com prestígio.

A recolha foi profícua. No início corresponderam à chamada uns quantos (excedendo as expectativas) aprendizes. Élio Coelho, Fernando Natividade, Armando Maia, Margalho, Luís Coelho, Fernando Coelho, Luís Torres, Augusto Martins, Antero (estes dois em serviço na Escola de Electromecânica de Paço de Arcos), João Manuel Pinto, Fernando Sampaio, etc.

Tal como planeado, uns melhor, outros nem tanto, foram-se aprumando técnicas de leilão (fundamental: ver nota sobre os procedimentos do jogo) e de carteio, a ponto de se irem cumprindo as expectativas.

Foram vários os bons resultados conseguidos, com torneios ganhos e um número de boas classificações, quer em pares quer em equipas, com realce para uma representação no Clube de Ténis do Estoril, com vitória em pares e em equipas, e diversas muito honrosas classificações em torneios organizados pela Federação Portuguesa de Bridge (nível nacional).

Decorrida uma primeira fase de carácter estrutural e de formação (equipas e técnicas), a secção ‘abalançou-se’ para a organização de torneios.

Foi uma época muito empolgante e de enorme satisfação ao nível de resultados, porquanto, invariavelmente (quase que), eram equipas CDPA a ganharem os torneios, e/ou ficarem nos primeiros lugares.

Convirá nesta altura explicar ao leitor que as equipas, nesta fase, eram formadas por pares que incluíam (tanto quanto possível) um ‘veterano’ e um ‘aluno’ de modo a dar ‘entrosamento’ a todos.

Foi uma táctica bem concebida, na medida em que os resultados demonstraram a eficácia do sistema, a par do ‘crescimento’ dos menos ‘rodados’.



Princípios e procedimentos do Jogo

Este é um jogo de pares, dois contra dois.

O jogo divide-se em duas partes distintas. O leilão e o carteio.

Leilão

Decide a marcação de trunfo (ou sem trunfo), e o correspondente nível (numero de vasas), através de ofertas (numero de vasas), em subida, segundo a hierarquia dos naipes.

O fito do leilão é anunciar ao parceiro os nossos naipes, e/ou interesses, de modo a conseguir o melhor contrato comum. Para tanto utilizam-se regras/sistemas e convenções, normalmente pré combinadas entre os parceiros.

Nota curiosa a reter é que durante o leilão, qualquer jogador pode perguntar ao parceiro daquele que anunciou um naipe, o que ele entende por aquele anúncio específico, não podendo ser enganado, sob pena de, incorrer em pesada penalização pontual a ser decidida pelo árbitro.

Nota: Todos os torneios são comandados por um árbitro que gere o torneio, garante a imparcialidade, e as contagens de pontos de jogo e de torneio.

Carteio

Uma vez estabelecido o contrato final, o jogo inicia-se com uma carta de saída do adversário imediatamente á esquerda do declarante (aquele que primeiro anunciou o naipe objecto do contrato final).

Após este desenvolvimento, o parceiro do declarante expõe as suas cartas sobre a mesa, e a partir daí apenas joga as cartas que lhe são indicadas pelo parceiro, estando impedido de fazer comentários, sugestões ou qualquer outra manobra que possa influenciar a ‘linha’ de jogo.


Como se percebe, a ‘mão’ do morto (designação do parceiro do declarante), fica á vista, inclusivamente dos adversários que podem livremente utilizar essa informação adicional para o seu plano de jogo.

Os torneios

Existem dois tipos de torneios, de pares e de equipas.

Os procedimentos são idênticos para ambos, com as necessárias cambiantes.

Sorteiam-se os pares/equipas, e as correspondentes mesas. A cada mesa é atribuída uma carteira numerada que transportará de mesa em mesa as quatro ‘mãos’ devidamente identificadas por posição.

Isto serve para que a carteira circule por todas as mesas, permitindo que outros pares joguem com as mesmas mãos.

No fim são verificadas as diferenças pontuais, e feita a classificação, tendo em conta os melhores resultados obtidos, o número de jogos feitos (comparação com outros pares), e o número de mesas percorrido.



Como tudo na vida, este projecto esmoreceu e acabou por desaparecer, em consequência do espaço utilizado na Sede do Clube ter sofrido séria inundação, que para além de ter causado avultados prejuízos, durou imenso tempo para ser recuperado (não tenho mesmo notícia de quando isso aconteceu).

Os jogadores habituais preferiram organizar-se em pequenos grupos e jogar entre si, perdendo-se a dinâmica existente.

Ao que me disseram na época, passaria exactamente por baixo daquela sala uma antiga ribeira, que terá sido tapada, mas que nesse ano, devido á grande intensidade das chuvas, (aluíram partes da avenida marginal, julgo que em Carcavelos) terá subido o nível das águas alagando o espaço e dificultando soluções.

E assim morreu uma secção que também contribuiu para levar o nome de Paço de Arcos a outros patamares.



Colaboração do Bardino Fernando Reigosa.


3 comentários:

Anónimo disse...

Já venho aqui há uns tempos, mas nunca comentei nada. Hoje não posso deixar de comentar, pois vejo citado o nome do meu pai (Margalho) na altura em que faz cinco anos que nos deixou. Recordo-me bem, em miúdo (anos 60), de ele e a minha mãe participarem em campeonatos de bridge. Bem haja a este blog, por manter viva a memória de tantos que viveram nesta linda terra de Paço de Arcos.

vitor martinez disse...

meu amigo,

foi com alegria que recebi este texto do Fernando Reigosa para publicação, pois fez-me lembrar alguns nomes que já estavam um pouco esquecidos.

o nome do margalho foi um deles.

é com misto de tristeza e decepção que tomo agora conhecimento que o Margalho já faleceu.

não sabia e é com tristeza que li o comentário aqui deixado pelo filho, que, com toda a sinceridade, não me recordo dele.

mas do Margalho não me esqueço, ele que foi uma pessoa fora de série, bom homem, bom camarada, que privou comigo, mais novo que ele, quando fazíamos parte de uma das equipas de ténis de mesa que representou o CDPA durante algum tempo.

ele como jogador efectivo, bom jogador, eu quase sempre como suplente, mas fazendo parte da equipa de corpo inteiro, como o Margalho me fazia sentir.

bons tempos e, embora não o conhecendo, daqui envio um abraço de amizade ao seu filho.


vitor martinez

Fernando Reigosa disse...

ejo com satisfação que há gente insuspeita a ver o nosso Blog.
Do que eu me recordar, coisa pouca, passarei para aqui.
Tenho sido abordado algumas vezes por gente igualmente insuspeita, que se manifesta agradàvelmente.
Se calhar estamos no bom caminho.
A propósito da capacidade Margalha' para disputar jogos inteligentes e sem fuga a um plano (de jogo) estabelecido, a que preço fosse (nunca na minha vida vi tal capacidade de concentração), e do ténis de mesa em particular, talvez hajam histórias interessantes para contar. Quem viveu isso mais perto, terá melhores condições que eu para tal.
Recordo-me que houve uma equipa em Paço de Arcos que 'mostrou' a vila por esse país fora. Margalho, Marques, Armando Maia, Carlos Neves, e a componente feminina onde brilhavam a Anabela Marques e a Sentineli.
Como digo, alguém terá muito mais e melhor memória que eu.